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Dagoberto José Fonseca é gradua­do, mestre e doutor em Ciências Sociais pela PUC-SP

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Pesquisador da Unesp diz que piadas racistas reforçam padrão colonialista e estereótipos

Criado em 20/11/12 11h32 e atualizado em 20/11/12 12h07
Por Isabela Vieira Edição:Juliana Andrade e Lílian Beraldo Fonte:Agência Brasil

Dagoberto José Fonseca
Dagoberto José Fonseca é gradua­do, mestre e doutor em Ciências Sociais pela PUC-SP (Material de divulgação da Selo Negro Edições)

Rio de Janeiro - Piadas sobre negros ainda são usadas para desqualificar e marginalizar essa parcela da população, critica o professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Dagoberto José da Fonseca, que pesquisa o tema desde a década de 1980. "Esse tipo de piada, de brincadeira, que não é nada inocente, tem o objetivo de rebaixar, de inferiorizar, de desqualificar o negro, de mostrá-lo como um animal, incompetente ou estigmatizar uma situação de pobreza pela qual passa boa parte dessa população.”

Doutor em ciência sociais, ele começou a pesquisar o tema depois de ouvir de um amigo uma piada racista ainda na faculdade. A anedota deu origem a uma tese de mestrado que, engavetada desde então, foi resumida e será publicada no livro Você Conhece Aquela? A Piada, o Riso e o Racismo à Brasileira, com previsão de lançamento em dezembro.

Em 133 páginas, o professor da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp reúne piadas em que os protagonistas são negros e aparecem como “vadios, malandros, ladrões”. Em algumas dessas anedotas são comparados a doenças degenerativas, como câncer, ou têm características físicas, como o nariz e a boca, exageradas, reforçando estereótipos.

É o caso da personagem Adelaide, do programa Zorra Total, da TV Globo. No quadro, ela é uma mulher negra, pobre, sem dentes, que se refere aos cabelos da própria filha como “palha de aço”. As aparições da personagem estão sob análise no Ministério Público do Rio de Janeiro, que vai avaliar se há racismo no programa, a pedido da Secretaria de Igualdade Racial (Seppir).

“A personagem Adelaide está colocada dentro dos marcos do passado. Havia uma leitura nas piadas de que os negros eram pobres, desdentados e feios. Ela [a personagem] não rompe com o passado, como Mussum, Grande Otelo e Chocolate. Adelaide tem o nariz e os lábios exageradamente alargados e o cabelo despenteado, em um clichê, que, no final, a compara a um gorila”, criticou.

Sobre o tema da sexualidade, em um dos quatro capítulos da obra, Fonseca também critica o mito da potência sexual, no caso dos homens, ou de lascívia, no caso das mulheres. Segundo o professor, essas ideias surgem na colonização tanto no Brasil quanto na África e refletem teorias de um momento histórico em que o negro era tido como inferior.

“Quando a gente pensa em um negro brutamonte, está associando o negro a um tarado, a um cavalo, a um touro, ou seja, voltamos para a questão da animalização”, ressaltou. “Do outro lado, quando se remete à mulher negra, há ideia de lascividade, de promiscuidade. Tudo vinculado ao processo colonial, em que o dono do corpo era quem escravizava”, acrescenta.

Para o professor, por trás das piadas racistas há uma intenção de buscar a “padronização” do corpo, da beleza, por meio da valorização de um "ideal branco”, o que tem impactos negativos, especialmente, entre as crianças negras. A tendência, explica o pesquisador, é que elas se sintam inferiores e tenham mais dificuldade para aprender.

Em relação à personagem Adelaide, a Central Globo de Comunicação informou que o humorístico “é notadamente uma obra de ficção, cuja criação artística está amparada na liberdade de expressão”. A nota acrescenta ainda que a personagem foi inspirada na avó de seu intérprete e criador, o ator Rodrigo Sant’anna.

Edição: Juliana Andrade e Lílian Beraldo

Creative Commons - CC BY 3.0

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