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Chael Charles Schreier, 23 anos, estudante de medicina da Santa Casa de São Paulo,  foto tirada no momento da prisão em 21/11/1969

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Filme desmente versão do Exército sobre morte de estudante na Ditadura

Criado em 12/09/14 17h09 e atualizado em 17/09/14 11h51
Por Leandro Melito Fonte:Portal EBC

Chael Charles Schreier
Chael Charles Schreier, 23 anos, estudante de medicina da Santa Casa de São Paulo, em foto tirada no momento da prisão em 21/11/1969 (Fotograma do filme Retratos de Identificação / Acervo do Arquivo Publico do Estado do Rio de Janeiro)

Brasília - Foi exibido pela primeira vez nesta sexta-feira (12) no Centro Cultural da Justiça Federal no Rio de Janeiro, o documentário "Retratos de Identificação". Dirigido pela cineasta Anita Leandro, o filme apresenta documentos encontrados no Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro que desmentem a versão oficial do Exército de que o estudante de medicina Chael Charles Schreier teria morrido de infarto em decorrência de ferimentos sofridos durante uma emboscada policial em novembro de 1969.

"É um filme que atualiza um conjunto de material de arquivos, o arquivo é o personagem principal", destaca a diretora que pretende ampliar a busca sobre documentação dos personagens retratados no documentário por meio de pesquisas nos arquivos do Sistema Nacional de Informação (SNI), no Arquivo Nacional e no Superior Tribunal Militar. Além do documentário, os arquivos encontrados e os depoimentos colhidos foram expostos no Centro Cultural na mostra Arquivos da Ditadura. 

Acesse o especial 1964: um Golpe na Democracia

Entenda o caso Chael Scheirer

Schreier foi preso no dia 21 de novembro daquele ano em um apartamento da rua Aquidabã, no Rio de Janeiro junto de Maria Auxiliadora Lara Barcellos, conhecida como Dodora, e seu marido Antonio Roberto Espinosa, comandante da  Vanguarda Armada Revolucionária (VAR) -Palmares, uma das organizações guerrilheiras que lutavam contra o regime militar (1964-1985). Os três foram levados para o Departamento de Ordem Política e Social (Dops) e de lá para a Cia de Polícia do Exército, na Vila Militar, de onde Chael sairia morto no dia 24 daquele mês, três dias após sua prisão.

Confira imagens do documentário

 

Uma foto encontrada pela cineasta no acervo do Dops mostra Chael sem camisa e revela que ele não tinha nenhum ferimento aparente no dia de sua prisão. "Esses negativos vieram a acrescentar mais uma prova e uma prova definitiva a um conjunto de provas documentais que já existiam", afirma Anita. O laudo de necrópsia, realizado no Hospital Central do Exército no dia da morte de Chael, constata que o estudante sofreu lesões enquanto permaneceu sob a responsabilidade dos agentes de repressão na Vila Militar.

Os documentos desmentem o relatório do Inquérito Policial Militar (IPM) realizado em 1970 e assinado pelo capitão do exército, Celso Lauria, apontado como um dos responsáveis pelo assassinato do estudante. "Houve necessidade do emprego de energia física para a efetivação da prisão, resultando daí as lesões letais verificadas no corpo do militante", diz o texto considerado como versão oficial do Exército. Os documentos encontrados por Anita foram apresentados à Comissão Nacional da Verdade em janeiro deste ano.

Com base na documentação encontrada, Anita procurou algumas pessoas envolvidas naqueles eventos para ouvir seus relatos com base no material arquivístico. "O filme tem essa particularidade de ter trazido uma documentação até então desconhecida, principalmente essa foto do Chael, e a outra particularidade é essa contestação das testemunhas, dos sobreviventes com esse material do passado, com esses vestígios do passado" ressalta a diretora.

Ouça a leitura do laudo de necrópsia feito para o documentário Retratos de Identificação:

Creative Commons - CC BY 3.0 -

Relatos de tortura

Uma das pessoas ouvidas no documentário é o comandante da VAR-Palmares, Roberto Espinosa, um dos presos na ocasião. Em seu depoimento, ele relata uma sessão de tortura feita ao mesmo tempo com os três guerrilheiros presos e acredita que tenha sido naquele dia que Chael sofreu os golpes que o vitimaram. Ouça o áudio do relato:

Creative Commons - CC BY 3.0 -

Desde que chegaram ao Dops, os três integrantes da guerrilha foram submetidos a diversos tipos de tortura, que continuaram depois que eles foram levados para a Vila Militar, conforme relatou Maria Auxiliadora no documentário "Não é hora de chorar" de Pedro Chaskel e Luiz Sanz. O registro feito em 1971 colheu depoimentos de alguns dos 70 presos políticos que chegaram ao Chile em janeiro daquele ano  após a troca pelo embaixador suiço Giovanni Bucher, sequestrado pela guerrilha em dezembro do ano anterior. O depoimento de Dora, uma das 11 mulheres libertadas, foi utilizado no filme de Anita Leandro e na exposição Arquivos da Ditadura, realizada no Centro de Cultura da Jutiça Federal. Ouça do depoimento de Dodora sobre as torturas sofridas por ela em 1969:

Creative Commons - CC BY 3.0 -

Exílio no Chile

Reinaldo Guarany Simões, militante da Aliança Libertadora Nacional (ALN) estava entre os presos trocados pelo embaixador suiço que foram para o Chile. Foi quando conheceu Dora, com quem viveu nos anos de exílio. Com o golpe militar no Chile em 11 de setembro de 1973 que derrubou Salvador Allende, e iniciou os anos de ditadura Pinochet (1973-1990), os exilados brasileiros passam a ser perseguidos no país como terroristas internacionais. Depois de dificuldades o casal conseguiu deixar o país em direção ao México, depois para a Bélgica, onde permaneceu até fevereiro de 1974 e de lá para a Alemanha, onde se estabeleceram como "apátridas" na Berlim Ocidental. Ouça o relato de Reinaldo para o documentário Retratos de Identificação:

Creative Commons - CC BY 3.0 -

Morte de Dodora

Em Berlim, Dodora conseguiu retomar os estudos em medicina, mas teve problemas psicológicos que a levaram a ser internada em uma clínica psiquiátrica em Spandau. "Ela sucumbiu, ela não ficou deprimida, ela teve um surto e quebrou a casa de um brasileiro", lembra Simões. Em junho de 1976, depois de receber alta, passou a fazer terapia de grupo e preparava a sua licenciatura quando, aos 31 anos, se atirou na frente de um vagão de trem na estação de Charlottenburg do metrô de Berlim. Na véspera da morte, ela relatou ao companheiro seguidos pesadelos com perseguição policial. Ouça trecho do depoimento de Reinaldo Simões para o documentário Retratos de Identificação.

Creative Commons - CC BY 3.0 -
Creative Commons - CC BY 3.0

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