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Encouraçado Minas Gerais, um dos navios sequestrados pelos marinheiros da Revolta da Chibata

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Bordados ajudam a revelar perfil do líder da Revolta da Chibata

Criado em 23/04/13 16h47 e atualizado em 23/04/13 19h32
Por Léo Rodrigues Fonte:Portal EBC

João Cândido, líder da Revolta da Chibata
João Cândido, líder da Revolta da Chibata (Domínio Público)

A história pode ser contada na ponta da agulha. É o que atesta duas obras recuperadas em São João Del-Rei (MG). São toalhas bordadas por João Cândido, que liderou a Revolta da Chibata, quando diversos marinheiros se mobilizaram em 1910 contra os castigos corporais da Marinha brasileira. Os bordados, que faziam parte do acervo de um museu desativado, deverão passar por um processo de restauração com recursos do PAC das Cidades Históricas, programa coordenado pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

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Os dois bordados chegaram à São João Del-Rei por intermédio de um cidadão local. Antônio Manuel de Sousa Guerra, membro do 51º Batalhão de Caçadores, foi convocado ao Rio de Janeiro para auxiliar no policiamento da cidade durante a Revolta da Chibata. Naquele tempo, eram comuns eventuais deslocamentos de contingentes para a então capital federal. Antônio Guerra acabou incorporado a um grupo encarregado da guarda dos marinheiros presos, encarcerados na Ilha das Cobras. Tendo acesso aos porões, ele iniciou uma amizade com João Cândido, que lhe ofereceu os bordados em troca do acesso aos jornais da época.

Veja galeria de fotos das obras do Museu Tomé Portes Del-Rei:

O historiador e professor da UFRJ, José Murilo de Carvalho, tomou conhecimento das relíquias em 1985 e publicou um artigo onde analisou de que forma elas contribuem para traçar um perfil do líder da Revolta da Chibata. Ele revela como ficou espantado com a descoberta: "João Cândido tinha a imagem de um marinheiro machão, alto e forte. Sua figura não combinava em nada com o hábito de bordar, que era encarado como uma prática feminina".

Embora toscos, os bordados não são obra de quem se aventura pela primeira vez. "Os navios a vapor já existiam, mas esses marinheiros passaram por treinamento em embarcações a vela, de forma que eles teriam muita familiaridade em trabalhar com cordas e todo tipo de nós. Não é estranho imaginar que essa habilidade tenha alguma relação com o costume de bordar", especula José Murilo de Carvalho. O historiador ressalta que era comum que os marinheiros buscassem passatempos diversos para preencher as horas de inatividade, a bordo de um navio.

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Creative Commons - CC BY 3.0 -

Para o historiador, a descoberta dos bordados permite construir a imagem de um homem que não é aquele “brutamontes” mostrado pela literatura da Marinha. "De um lado, ele era vilipendiado pelo discurso oficial e, de outro, passou a ser exaltado e transformado num mito, sobretudo pelo movimento negro. Sua reputação ficou entre a calúnia e a mitificação. Os bordados permitem uma visão mais complexa e humana da figura de João Cândido", finaliza.

As obras

Denominadas Amôr e Adeus do Marujo, as obras trazem temáticas distintas. A primeira traz um coração atravessado por uma espada, cercado por flores, borboletas e pássaros, remetendo a uma possível paixão. "Curioso é a forma como ele grafou amor, utilizando um acento circunflexo. Ele lia, mas o grau de alfabetização não era muito alto, o que justifica alguns erros de grafia", diz José Murilo de Carvalho.

Segundo o historiador, o Adeus do Marujo é um tributo à amizade, mas traz um elemento interessante. Além do desenho, o marinheiro grafou na toalha as palavras ‘liberdade’ e ‘ordem’, conceitos que bem poderiam ser considerados antagônicos. "João Cândido ingressou na Marinha aos 15 anos e cresceu numa instituição militar onde prevalece a disciplina. Além disso, o lema republicano 'ordem e progresso' tinha forte influência entre os marinheiros. Mesmo após sua expulsão, João Cândido manteve um relacionamento sentimental com a instituição. Ele foi visto idoso se despedindo quando o navio Minas Gerais foi desligado. A liberdade, para ele, significava o direito a um tratamento que não fosse assemelhado aos escravos, como os próprios marinheiros diziam. Mas sem perder de vista a importância da disciplina", explica José Murilo de Carvalho.

Creative Commons - CC BY 3.0

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