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Seminário debate legado do cinema deixado por Eduardo Coutinho

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Seminário debate legado do cinema deixado por Eduardo Coutinho

Criado em 22/09/14 17h33 e atualizado em 02/01/15 12h47
Por Amanda Venício Edição: Thaísa Oliveira - Fonte:Campus Online*

Seminário Eduardo Coutinho
Seminário debate legado do cinema deixado por Eduardo Coutinho (Hanna Guimarães/Campus Online)

No dia 30 de janeiro, o historiador Milton Ohata ligou para Eduardo Coutinho e avisou que a coletânea homônima que haviam organizado sobre a obra do diretor estava esgotada e seria reimpressa. O cineasta, notório pelo temperamento ranzinza e o humor ácido, respondeu: “Isso é bom ou ruim?”. Era a última vez que Ohata falaria com Coutinho. Quatro dias depois, o diretor foi assassinado a facadas em seu apartamento na Zona Sul do Rio de Janeiro. O autor do crime foi o próprio filho, Daniel Coutinho.

Em homenagem a Eduardo Coutinho, o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro organizou uma mostra que leva o nome do diretor e reúne alguns de seus filmes. “Curar a mostra foi como uma terapia”, contou Vladimir Carvalho, cineasta e amigo do diretor, durante seminário realizado no domingo (21/9), no Museu Nacional da República. Milton Ohata, o crítico Jean-Claude Bernardet e os cineastas Zelito Viana, Beth Formaggini e Carlos Nader se reuniram para debater a vida e a obra de Coutinho.

Confira a programação das mostras paralelas do 47º FestBrasília

Eduardo Coutinho teria sua estreia como diretor em longa-metragem nos anos 1960 com “Cabra Marcado Para Morrer”. A filmagem, no entanto, foi interrompida devido ao golpe de 1964, que estabeleceu a ditadura militar. Como conta Zelito Viana, “A interrupção gerou nele uma obsessão de acabar o filme. Tudo o que ele fez entre 1964 e 1984 foi em função do Cabra”.

Vinte anos após o golpe, Coutinho conseguiu finalizar a obra. O formato, no entanto, era bem diferente. O que antes era um relato do assassinato do líder de uma liga camponesa na Paraíba, transformou-se em um documentário sobre a interrupção das filmagens e o golpe militar. “A produção do filme foi uma vitória política”, afirma Viana, produtor do “segundo Cabra”, como é apelidada versão finalizada do longa.

Segundo Ohata, Coutinho foi responsável por tornar os documentários tão importantes quanto a ficção. “Ele subverteu a abordagem tradicional e tratou o objeto como sujeito”, diz Viana. No cinema de Coutinho, o entrevistado aparece em cena, em oposição ao que o cineasta chamava de “diretor fantasma”, cujas perguntas ao entrevistado eram eliminadas na edição do filme.

Palavra e imagens
O diretor conseguiu criar uma linguagem própria: o cinema de conversação. “A palavra não é ilustrada por imagens”, explica Ohata. “O cinema acontece na cabeça do espectador”. Bernardet aponta a língua portuguesa como uma barreira para uma apreciação mais completa de Coutinho no exterior. “É um filme que não pode ser legendado”, fala sobre “Jogo de Cena” (2007).

Em resposta aos jornalistas que insistiam em definí-lo como “profundo”, Coutinho adotou para si mesmo a alcunha de “cineasta da superficialidade”. Para Bernardet, não se trata apenas de uma provocação: no cinema de Coutinho, o diretor não tem acesso a mais nada além do que está na frente da câmera. Apesar de ser documentarista, Coutinho não se preocupava com a verdade. Ou então, como coloca Ohata, “O que importa não é a filmagem da verdade, é a verdade da filmagem”.

Bernardet e Coutinho desenvolveram juntos o conceito do fóssil narrativo: a partir do momento em que uma vivência é organizada em narrativa, ela se torna alheia à própria experiência. Ao ser constantemente recontada, a narrativa se consolida e é incorporada pelo sujeito.  A mentira seria tão relevante para a subjetividade do personagem quanto a verdade. Como diz Coutinho em entrevista publicada no site da Agência Pública, “Se é bem inventado, é verdadeiro e ponto final”.

Edição: Thaísa Oliveira - Campus Online*
Supervisão: Ana Elisa Santana/Portal EBC

*O Portal EBC e o Campus Online - jornal laboratório de jornalismo da Universidade de Brasília - estão fazendo a cobertura do 47º FestBrasília em parceria, por meio do canal Colaborativo. Clique aqui para ler todas as reportagens da parceria.

Creative Commons - CC BY 3.0

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