Cinco décadas de originalidade musical

Nascido na cidade de Irará, na Bahia, em 11 de outubro de 1936, Tom Zé completa 80 anos nesta terça-feira e segue em plena atividade. O músico celebra oito décadas de vida com um novo disco: “Para dançar o sobe ni mim -  Canções eróticas de ninar - Urgência didática”, que foi lançado em setembro.

Este é o 25º disco de estúdio lançado pelo cantor e compositor, que iniciou sua discografia em 1968 com “Tom Zé - Grande Liquidação”, logo após vencer o IV Festival de Música Popular Brasileira da TV Record com a música “São, São Paulo Meu Amor”. Da atuação na Tropicália, passando pela queda na carreira na década de 1980 até o retorno ao cenário musical com a ajuda de David Byrne, lembre alguns momentos emblemáticos da trajetória de um dos maiores nomes da Música Popular Brasileira.

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Início na música

Antônio José Santana Martins passou sua infância na cidade baiana de Irará, que à época não tinha acesso a benefícios da cidade grande. Mas cresceu ouvindo rádio, em especial a Rádio Nacional, que ajudou a construir o imaginário de sua geração. Tom Zé – como se tornaria mundialmente conhecido – teve o primeiro emprego na loja de tecidos de seu pai, que havia sido agraciado com um prêmio em dinheiro da loteria federal.

A atividade como vendedor o fez iniciar suas primeiras composições, como ele conta no Musicograma. Assista a um trecho:

No começo dos anos 1950, Tom Zé se mudou para Salvador, onde estudou por seis anos na Escola de Música da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Entre seus professores estava Walter Smetak, que se tornaria grande influência na maneira de compor do músico baiano. 

Em 1965 em São Paulo com Piti Gil e Caetano no espetáculo Arena Canta Bahia
Em 1965 em São Paulo com Piti Gil e Caetano no espetáculoArena Canta Bahia, por Arquivo Pessoal / Tom Zé

Na capital, Tom Zé se tornou amigo dos músicos locais: Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Maria Bethânia. Com eles, participou de shows históricos, como a reencenação de “Nós, por Exemplo”, onde ainda assinava como Antonio José, e posteriormente o espetáculo “Velha Bossa Nova, Nova Bossa Velha”. Seguiu então com os demais baianos para São Paulo, onde se projetou nacionalmente como artista ao se sagrar vencedor do IV Festival de Música Popular Brasileira, da TV Record, em 1968, com a música “São, São Paulo Meu Amor”. A composição integrou seu primeiro disco, “Tom Zé: Grande Liquidação”, lançado naquele mesmo ano.

Tom Zé foi importante integrante, também, do movimento que se tornou conhecido como Tropicalismo, tendo participado do disco “Tropicalia: Ou Panis Et Circensis” (1968) com a composição “Parque Industrial”.

Retocai o céu de anil, bandeirolas no cordão
Grande festa em toda a nação
Despertai com orações, o avanço industrial
Vem trazer nossa redenção
Tem garotas-propaganda, aeromoças e ternura no cartaz
Basta olhar na parede,
Minha alegria num instante se refaz
Pois temos o sorriso engarrafado
Já vem pronto e tabelado
É somente requentar
E usar,
É somente requentar
E usar,
Porque é made, made, made, made in Brazil
Porque é made, made, made, made in Brazil

 

Ele relembra a época da Tropicália na entrevista:

Mesmo sem ter tanto reconhecimento comercial quanto os demais músicos do movimento tropicalista, Tom Zé seguiu carreira solo ao longo dos anos 1970 e lançou os discos “Todos os Olhos” (1973), “Estudando o Samba” (1976) e "Correio da Estação do Brás" (1978). A gravadora Continental encerrou o contrato com o artista, que só conseguiu fazer outro disco seis anos depois: em 1984, foi lançado o "Nave Maria", pela RGB. Tom Zé seguiu fazendo shows no circuito universitário até ser "redescoberto" pelo músico britânico David Byrne, ex-integrante do grupo Talking Heads que fundou o selo Luaka Bop no final dos anos 1980.

Byrne o conheceu ao ouvir o disco "Estudando o Samba", que não havia recebido atenção no cenário fonográfico do Brasil, e decidiu convidá-lo para trabalhar. Tom Zé relembra o episódio que foi divisor de águas para o seu retorno aos holofotes:

Recomeço

Byrne contratou Tom Zé pelo selo que acabara de lançar. Eles fizeram então a coletânea "Massiv Hits - The Best of Tom Zé" que projetou o músico baiano mundialmente e foi o único álbum brasileiro a figurar entre os dez discos mais importantes da década nos EUA. Em seguida, vieram os álbuns "The Hips of Tradition (As Ancas da Tradição)", em 1992, Tom Zé”, em 1994, “No Jardim da Política” e “Com Defeito de Fabricação”, ambos em 1998.

Confira o programa Faixa Autoral, de 1993, que fala sobre o disco "As Ancas da Tradição":

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"Canções Eróticas de Ninar" é o álbum mais recente de Tom Zé. Foto: Divulgação

Tom Zé iniciou os anos 2000 trabalhando o disco "Jogos de Armar" pelo selo Trama, que lançaria na sequência outros quatro trabalhos do artista. Nesse período, o músico foi tema de três documentários: “Tom Zé, ou Quem Irá Colocar Uma Dinamite na Cabeça do Século?”, de Carla Gallo (2000); “Fabricando Tom Zé”, de Décio Matos Júnior (2006) e “Tom Zé – Astronauta Libertado”, de Igor Iglesias, cineasta espanhol (2009).

Em 2003, o músico recebeu o prêmio Shell pelo conjunto da obra de sua carreira, e em 2006 foi escolhido o Artista do Ano pela Revista Bravo. Depois de alguns trabalhos lançados de forma independente, Tom Zé chegou ao seu 25º álbum de estúdio: "Canções Eróticas de Ninar", criado pelo selo Circus e lançado no ano que coincide com o aniversário de 80 anos do cantor.

10 de Outubro, 2016

Tom Zé: 80 anos - Expediente

Conteúdo: Leandro Melito
Edição de texto: Ana Elisa Santana
Pesquisa: Acervo - Empresa Brasil de Comunicação