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Einardo Bingener: comunidades terapêuticas são alternativa à "fábrica de monstros"

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Einardo Bingener: comunidades terapêuticas são alternativa à "fábrica de monstros"

Criado em 21/08/12 19h53 e atualizado em 21/08/12 22h54
Por Nathália Mendes Fonte:EBC na Rede

Comunidade terapêutica em São Paulo
Einardo Bingener defende que comunidades terapêuticas de reabilitação de dependentes ofereçam tratamento necessariamente gratuito, sem lucros, a longo prazo, com adesão voluntária (Foto: Prefeitura Municipal de Itanhaém/Creative Commons)

Brasília - Membro da Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia, o argentino Einardo Bingener coordena o Projeto Latino-Americano de Pesquisa sobre Comunidades Terapêuticas, que estuda a eficácia de comunidades terapêuticas na reabilitação e tratamento de dependentes de drogas em países como a Argentina, Brasil, Peru, México e Colômbia. Referindo-se ao uso global de drogas como uma epidemia, Bingener defende que o dependente químico deve ser encarado como um portador de diabetes ou câncer: "Essas pessoas precisam ser tratadas, mas não com violência. Este problema precisa ser olhado como questão de saúde pública".

EBC: Qual é o papel das comunidades terapêuticas no debate da descriminalização das drogas?

Einardo Bingener: As comunidades terapêuticas sempre vão aparecer quando se dá ênfase ao tratamento da psicodependência. Encorajamos o paradigma português de dissuassão do uso de drogas (por parte das comissões administrativas interdisciplinares), porque as comunidades terapêuticas surgem como um caminho, entre vários que existem, para transformar um mal incurável em controlável. As comunidades terapêuticas se propõe a mostrar um outro estilo de vida às pessoas internadas e tratadas. A maneira como esta epidemia está sendo tratada é repressiva, e as comunidades terapêuticas são uma alternativa de reabilitação. Sonho com o dia em que o toxicodependente será encarado como um portador de diabetes, câncer, ou de qualquer outra patologia controlável.

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EBC: Por que o senhor é contrário às atuais políticas públicas sobre drogas?

Einardo Bingener: Temos que oferecer possibilidades ao toxicodependente. Colocá-lo na prisão só piora o problema, porque a prisão é uma fábrica de monstros. O traficante sim, é uma questão de segurança policial. O usuário é problema da saúde pública. Por isso defendemos um tratamento necessariamente gratuito, sem lucros, a longo prazo, com adesão voluntária. A ida do doente à comunidade terapêutica tem que ser voluntária, e ele também tem que ter liberdade para sair quando quiser.

EBC: Por que uma parte considerável das comunidades terapêuticas são ligadas a algum credo religioso?

Einardo Bingener: É importante que no processo de reabilitação da pessoa também seja oferecida a espiritualidade. A partir de um relatório de 2003 da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre drogas e violência, concluiu-se que a espiritualidade é parte necessária do processo de reabilitação, alinhada à atenção hospitalar, ambulatorial, psicológica e ao tratamento de grupo. Isso independe da confissão religiosa. Não tem nada que separe católicos e evangélicos, por exemplo. A abordagem é a mesma.

EBC: Existe a possibilidade de haver aumento de demanda nas comunidades terapêuticas com uma possível descriminalização do usuário?

Einardo Bingener: Já hoje, é certo que a procura pelas comunidades terapêuticas de longe ultrapassa a oferta. À medida em que realmente houver ação governamental no sentido de apoiar as comunidades, com liberdade de tratamento assegurado, esta será uma política fadada ao sucesso, mesmo que em longo prazo. Precisamos reduzir ao mínimo o aspecto burocrático e permitir que cada grupo de operadores gozem de liberdade na reabilitação. Estamos falando de segurança nacional, e não policial. As vítimas de dependência são jovens, e precisamos pensar que tipo de jovens queremos para o nosso país.

Decisões anteriores

Em dezembro do ano passado, o financiamento de comunidades terapêuticas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para a recuperação de doentes mentais e dependentes químicos, foi rejeitado pela 14ª Conferência Nacional de Saúde. O movimento de reforma psiquiátrica brasileira, contrário à proposta, prevaleceu e o tema não chegou à plenária de votação do relatório final. Em julho do mesmo ano, o governo federal revogou a Resolução 101/2001 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que estabelecia regras mínimas a serem seguidas comunidades.

Creative Commons - CC BY 3.0

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