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Mia Couto diz que xenofobia na África do Sul é uma agressão aos próprios sul-africanos
Criado em 18/04/15 10h53
e atualizado em 18/04/15 11h13
Por Agência Lusa
Edição:Portal EBC
O escritor moçambicano Mia Couto considera a onda de violência xenófoba na África do Sul uma agressão aos próprios sul-africanos, defendendo que o fenômeno “mancha” o país e ameaça os sentimentos de gratidão e solidariedade entre africanos.
“A xenofobia que se manifesta hoje na África do Sul não é apenas um atentado bárbaro e covarde contra os 'outros'. É uma agressão contra a própria África do Sul. É um atentado contra a 'Rainbow Nation' que os sul-africanos orgulhosamente proclamaram há uma dezena de anos. Alguns sul-africanos estão manchando o nome da sua pátria”, declara Mia Couto, numa carta aberta ao presidente sul-africano, Jacob Zuma, publicada na sexta-feira na página da internet da Fundação Fernando Leite Couto, presidida pelo escritor moçambicano.
As últimas atualizações das autoridades moçambicanas indicam que 107 moçambicanos, incluindo 21 crianças, regressaram a Moçambique na madrugada de sexta-feira e foram alojados num campo em Boane, província de Maputo, repatriados da África do Sul devido à onda de violência xenófoba no país.
Para Mia Couto, além de “manchar” os sul-africanos, a xenofobia na África do Sul, especificamente contra moçambicanos, demostra um sentimento de ingratidão, um ato “bárbaro” contra os cidadãos de um país que ajudou a África do Sul na luta contra o regime do apartheid e na consolidação da sua economia, tendo-se tornado uma das maiores economias do continente africano.
“Nós não a esquecemos. Talvez mais do que qualquer outra nação vizinha, Moçambique pagou caro esse apoio que demos à libertação da África do Sul. A frágil economia moçambicana foi golpeada. O nosso território foi invadido e bombardeado. Morreram moçambicanos em defesa dos seus irmãos do outro lado da fronteira”, refere a carta, lembrando que Jacob Zuma viveu refugiado por um longo período em Maputo, durante a luta do Congresso Nacional Africano (ANC, sigle em inglês) contra o regime do apartheid, que terminou em 1994.
O escritor moçambicano apela ao governo sul-africano a redobrar esforços para controlar a situação, mobilizando o exército, caso necessário, como forma de evitar que mais pessoas morram vítimas dos ataques xenófobos e que a situação se alastre para outras regiões.
“Ponha imediatamente cobro a esta situação que é um fogo que se pode alastrar a toda a região, com sentimentos de vingança a serem criados para além das suas fronteiras. São precisas medidas duras, imediatas e totais que podem incluir a mobilização de forças do exército”, escreve Mia Couto, reiterando que é a própria África do Sul que está a ser atacada.
Desde que começou a onde de violência xenófoba contra estrangeiros africanos na África do Sul, várias manifestações de populares em retaliação ao fenómeno foram registadas em Moçambique.
Na sexta-feira, um grupo de moçambicanos, maioritariamente trabalhadores da construção civil, cortou a principal estrada entre Moçambique e a África do Sul durante cerca de 30 minutos, em retaliação contra a xenofobia.
Na quinta-feira, centenas de moçambicanos impediram, sem violência, a entrada de cidadãos sul-africanos nas minas de carvão da Vale em Tete, centro de Moçambique, também em retaliação à onda de xenofobia na África do sul.
Hoje, nas primeiras horas da manhã, mais de cem pessoas manifestaram-se na capital moçambicana contra a onda de violência xenófoba na África do Sul, numa marcha que teve como destino a Embaixada sul-africana em Maputo.
da Agência Lusa
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