Música e história

"Na verdade eu tinjo-me romântico, mas sou vadio-computador. Sou barroco"

Caetano 1972
Caetano em show após sua volta do exílio, no Teatro João Caetano,em 1972. Foto: Thereza Eugênia/Direitos Reservados ©

O cantor Caetano Veloso chega aos 75 anos nesta segunda-feira (7), no mesmo ano em que o lançamento de seu primeiro disco completa cinco décadas. Ao longo de sua carreira, o músico gravou 30 discos de estúdio, o último deles “Abraçaço”, lançado em 2012. Caetano também dirigiu o filme “Cinema Falado” (1986) e é autor do livro de ensaios autobiográficos “Verdade Tropical” (1997). A primeira biografia do cantor, não-autorizada, se chama “A Vida de Caetano Veloso, o Mais Doce Bárbaro dos Trópicos". O livro, escrito por Carlos Eduardo Drummond e Marcio Nolasco, foi lançado em abril de 2017.

Caetano 1974
Caetano em 1979. Foto: Thereza Eugênia/Direitos Reservados ©

Nascido em Santo Amaro da Purificação (BA), Caetano Veloso começou sua trajetória musical compondo trilhas para peças de teatro. O primeiro disco, “Domingo”, foi gravado em julho de 1967, em parceria com Gal Costa, com forte influência da Bossa Nova. Alguns meses depois, em outubro daquele mesmo ano, Caetano introduziu guitarras elétricas em sua canção “Alegria, Alegria”, e com isso se colocou, ao lado de Gilberto Gil, no centro de um movimento artístico que veio a ser batizado de Tropicalismo. A euforia tropicalista durou pouco mais de um ano, quando seus protagonistas foram presos pelos militares, que estavam no poder, e tiveram que deixar o país.

Caetano 1982
Caetano em sua casa, em 1982. Foto: Thereza Eugênia/Direitos Reservados ©

Após dois discos lançados no exterior, “Caetano” (1971) e “Transa” (1972), o compositor voltou ao Brasil e retomou sua produção com o experimental “Araçá Azul” (1973). “Antes eu queria fazer história, agora quero fazer música. Se é que a gente pode dizer assim. Mas é muito mais gostoso e mais difícil. No país de Jorge Ben, de Naná, de Gilberto Gil, de Milton Nascimento, no país de João Gilberto, de Tom, de Pixinguinha, de Jacó, o meu 'Araçá Azul' pode apenas ser perdoado como o esforço de alguém que tem vontade de começar a cantar”, escreveu Caetano em um artigo publicado na edição de dezembro do jornal Ex-, de dezembro de 1973.

Caetano fechou a década de 1970 com “Cinema Transcendental” (1979). Durante a turnê desse disco pelo interior de São Paulo, ele gravou “Outras Palavras” (1981). Para celebrar o aniversário do cantor e compositor, a Agência Brasil resgatou o áudio de uma entrevista concedida por ele à Rádio Nacional do Rio de Janeiro em meados de 1981, ano em que lançou "Outras Palavras", primeiro disco de ouro de sua carreira. 

A vida de Caetano Veloso é marcada pela versatilidade: além de cantor, compositor, escritor e dramaturgo, o artista atuou, em 1989, interpretando o poeta Gregório de Mattos em "Os sermões - a história de Antonio Vieira", filme de Júlio Bressane. Em sua carreira, acumula prêmios como o Shell para a Música Brasileira (1989), Sharp (1989 e 1992), Grammy Awards (duas vezes) e Grammy Latino (oito vezes).

Seus trabalhos também tiveram, em cinco décadas de música, parcerias de peso como João Gilberto - seu grande ídolo -, Jorge Mautner, Milton Nascimento e Torquato Neto. Algumas das gravacões emblemáticas de sua trajetória são ao lado do também baiano Gilberto Gil, com quem gravou o disco "Dois Amigos, Um Século de Música", em 2015, e realizou uma turnê em dupla por todo o país. Outra fase do músico que ocupa espaço saudoso na memória dos fãs é o grupo Doces Bárbaros, formado em 1976 por Caetano com Gilberto Gil, Gal Costa e Maria Bethânia.

Entrevista especial

Na conversa registrada e guardada pela Rádio Nacional, Caetano fala com o apresentador Darci Marcello sobre sua relação com a música e o processo de criação. “O fato é que quando eu toco violão eu me sinto melhor e se não toco me sinto muito mal. Tenho vontade de tocar e cantar, é terapêutico, me sinto bem, me melhora de qualquer coisa”. O músico também recorda momentos importantes para sua formação musical, como a temporada que passou no Rio de Janeiro em 1956, aos 13 anos de idade, quando ia semanalmente aos estúdios da Rádio Nacional para assistir a apresentações musicais.

Ouça as declarações do músico nos players abaixo.


Ouça trechos da entrevista:

Filipe Costa
Caetano Veloso durante a abertura das Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016. Foto: Filipe Costa/Direitos Reservados ©
“Ele (o disco “Outras Palavras”) é muito cheio de pessoas, de outras pessoas e de relação com outras pessoas. É muito cheio de relação.”
"'Jeito de corpo' é uma curtição com o linguajar paulistano e com o modo de eu sentir as coisas hoje, tanto da minha vida pessoal como do que eu vejo do Brasil, do mundo, das coisas e das pessoas.”
"Eu acho essa gravação lindíssima, acho que ficou uma gravação perfeita.”
Caetano Veloso
Caetano Veloso em show voz e violão. Foto: Rodolfo Magalhães/Direitos Reservados ©
“Eu estou me deixando levar pelo acaso [...] para fazer disco, canções e tudo. Faço o que pinta, o que acontece na hora.”
“O Rio tem uma coisa de Paris na cabeça da gente, subdesenvolvida [...]. É sempre engraçado a pessoa se dizer contra o centro, é uma coisa velha também, um charme antigo.”
“Eu tô aqui hoje vivendo uma emoção muito estranha, faz mais de 20 anos que eu não venho neste prédio. No ano de 56, estava aqui semanalmente[...]. Vinha sempre na Rádio Nacional, sabia de cor todos os subúrbios da central, desde a estação D. Pedro II até Deodoro.”
Caetano Veloso
Caetano Veloso no show de seu último álbum solo, "Abraçaço", de 2012. Foto: Marcos Hermes/Direitos Reservados ©
“Fica negligenciado um aspecto do cantar que é o próprio cantar. [...] Se faz muito mais uma trip da cantora personalidade,[...] a fim de alguma coisa que justifique se tornar um mito.”
“É uma canção que eu fiz pra Regina Casé. Eu abracei ela e disse assim: trate-me camaleoa; aí ela riu e eu disse: rapte-me leoa.”

03 de Agosto, 2017