Antônio José Santana Martins passou sua infância na cidade baiana de Irará, que à época não tinha acesso a benefícios da cidade grande. Mas cresceu ouvindo rádio, em especial a Rádio Nacional, que ajudou a construir o imaginário de sua geração. Tom Zé – como se tornaria mundialmente conhecido – teve o primeiro emprego na loja de tecidos de seu pai, que havia sido agraciado com um prêmio em dinheiro da loteria federal.
A atividade como vendedor o fez iniciar suas primeiras composições, como ele conta no Musicograma. Assista a um trecho:
No começo dos anos 1950, Tom Zé se mudou para Salvador, onde estudou por seis anos na Escola de Música da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Entre seus professores estava Walter Smetak, que se tornaria grande influência na maneira de compor do músico baiano.
Na capital, Tom Zé se tornou amigo dos músicos locais: Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Maria Bethânia. Com eles, participou de shows históricos, como a reencenação de “Nós, por Exemplo”, onde ainda assinava como Antonio José, e posteriormente o espetáculo “Velha Bossa Nova, Nova Bossa Velha”. Seguiu então com os demais baianos para São Paulo, onde se projetou nacionalmente como artista ao se sagrar vencedor do IV Festival de Música Popular Brasileira, da TV Record, em 1968, com a música “São, São Paulo Meu Amor”. A composição integrou seu primeiro disco, “Tom Zé: Grande Liquidação”, lançado naquele mesmo ano.
Tom Zé foi importante integrante, também, do movimento que se tornou conhecido como Tropicalismo, tendo participado do disco “Tropicalia: Ou Panis Et Circensis” (1968) com a composição “Parque Industrial”.
Retocai o céu de anil, bandeirolas no cordão
Grande festa em toda a nação
Despertai com orações, o avanço industrial
Vem trazer nossa redençãoTem garotas-propaganda, aeromoças e ternura no cartaz
Basta olhar na parede,
Minha alegria num instante se refazPois temos o sorriso engarrafado
Já vem pronto e tabelado
É somente requentar
E usar,
É somente requentar
E usar,
Porque é made, made, made, made in Brazil
Porque é made, made, made, made in Brazil
Ele relembra a época da Tropicália na entrevista:
Mesmo sem ter tanto reconhecimento comercial quanto os demais músicos do movimento tropicalista, Tom Zé seguiu carreira solo ao longo dos anos 1970 e lançou os discos “Todos os Olhos” (1973), “Estudando o Samba” (1976) e "Correio da Estação do Brás" (1978). A gravadora Continental encerrou o contrato com o artista, que só conseguiu fazer outro disco seis anos depois: em 1984, foi lançado o "Nave Maria", pela RGB. Tom Zé seguiu fazendo shows no circuito universitário até ser "redescoberto" pelo músico britânico David Byrne, ex-integrante do grupo Talking Heads que fundou o selo Luaka Bop no final dos anos 1980.
Byrne o conheceu ao ouvir o disco "Estudando o Samba", que não havia recebido atenção no cenário fonográfico do Brasil, e decidiu convidá-lo para trabalhar. Tom Zé relembra o episódio que foi divisor de águas para o seu retorno aos holofotes:
Byrne contratou Tom Zé pelo selo que acabara de lançar. Eles fizeram então a coletânea "Massiv Hits - The Best of Tom Zé" que projetou o músico baiano mundialmente e foi o único álbum brasileiro a figurar entre os dez discos mais importantes da década nos EUA. Em seguida, vieram os álbuns "The Hips of Tradition (As Ancas da Tradição)", em 1992, Tom Zé”, em 1994, “No Jardim da Política” e “Com Defeito de Fabricação”, ambos em 1998.
Confira o programa Faixa Autoral, de 1993, que fala sobre o disco "As Ancas da Tradição":
Tom Zé iniciou os anos 2000 trabalhando o disco "Jogos de Armar" pelo selo Trama, que lançaria na sequência outros quatro trabalhos do artista. Nesse período, o músico foi tema de três documentários: “Tom Zé, ou Quem Irá Colocar Uma Dinamite na Cabeça do Século?”, de Carla Gallo (2000); “Fabricando Tom Zé”, de Décio Matos Júnior (2006) e “Tom Zé – Astronauta Libertado”, de Igor Iglesias, cineasta espanhol (2009).
Em 2003, o músico recebeu o prêmio Shell pelo conjunto da obra de sua carreira, e em 2006 foi escolhido o Artista do Ano pela Revista Bravo. Depois de alguns trabalhos lançados de forma independente, Tom Zé chegou ao seu 25º álbum de estúdio: "Canções Eróticas de Ninar", criado pelo selo Circus e lançado no ano que coincide com o aniversário de 80 anos do cantor.
10 de Outubro, 2016