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Livro reúne depoimentos de ex-presos políticos perseguidos pelo governo paulista

Criado em 17/12/14 17h38
Por Camila Maciel - Repórter da Agência Brasil Edição:Stênio Ribeiro Fonte:Agência Brasil

Foi lançado hoje (17), em São Paulo, um livro que conta a história de pessoas perseguidas pelo governo paulista durante a ditadura militar (1964-1985). Ex-Presos Políticos: Memórias e Conquistas, de autoria do jornalista Claudio Blanc, reúne depoimentos de militantes que resistiram à repressão. A obra foi produzida a partir de documentos e relatos arquivados na Secretaria Estadual da Justiça e da Defesa da Cidadania, que serviam de base para os pedidos de reparação aos ex-presos. Desde a Lei 10.726/2001, 1.853 pessoas foram indenizadas.

Um dos testemunhos é do ferroviário e advogado Raphael Martinelli, preso e torturado em 1970. De acordo com o autor, o militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB) era defensor da luta armada contra o regime militar e atuou ao lado de Carlos Marighella, tendo sido um dos fundadores da Aliança Libertadora Nacional (ALN). Atualmente com 90 anos, Martinelli foi representado no lançamento do livro pela filha, a professora Rosa Maria. Ela destacou que as violações sofridas pelo pai tiveram impacto sobre toda a família.

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“Nós sofremos muito na época do golpe, quando ele foi preso. Eu era ainda muito menina, tinha 8 anos. Tenho memórias daquele período, em que o visitava na prisão e não o reconhecia. Ele estava machucado, magro, barbudo. Era uma pessoa irreconhecível para mim. Como menina, não sabia do que se tratava, apenas cresci com uma infância silenciosa. Eu era filha de comunista, e isso era palavrão na época. Essas coisas que a ditadura promove se estendem aos filhos e familiares”, relatou à Agência Brasil.

Ela conta que somente depois de adulta entendeu o que tinha se passado nos anos em que o país vivia um regime ditatorial. “Só fui tomar pé aos 30 anos, porque até então eu não queria saber o que era. Eu roubei umas fitas que ele tinha e as assisti durante uma madrugada inteira. Fui ouvir as histórias das torturas, que é uma coisa que meu pai nunca fala. Tomei pé daquela história, que era a minha história também, de um quebra-cabeças que eu não sabia montar”, declarou.

Outro caso descrito no livro é o reconhecimento de um feto como preso político. O fato, que foi analisado pela Comissão Especial da Lei nº 10.726, ocorreu com a ex-guerrilheira Crimeia Grabois, presa em dezembro de 1972, quando estava grávida de sete meses. Mesmo gestante, ela sofreu torturas, com murros, chutes, palmatória e choques elétricos. Ela conta no livro que continuou a sofrer torturas psicológicas no Hospital do Exército, para onde foi levada quando entrou em trabalho de parto. Crimeia relata que o bebê era medicado com tranquilizante para que não chorasse, e ficou desnutrido, porque ela era impedida de amamentá-lo.

As torturas narradas pelas mulheres foram algumas das situações que mais chamaram a atenção do autor Claudio Blanc. “Analisar os documentos e ver a descrição de punho dessas pessoas foi algo muito chocante. Ver imagens, fotografias, cadáveres. O que mais me surpreendeu foi o papel da mulher. Embora fossem situações já conhecidas, mergulhar nesse universo foi surpreendente. Grávidas tinham que tomar injeções para deixar de produzir leite, pois o cheiro de leite nas sessões de tortura enoja os torturados. Eram muitos os absurdos”, destacou.

A secretária da Justiça e da Defesa da Cidadania, Eloisa de Sousa Arruda, lembrou que as reparações têm caráter simbólico diante das barbaridades promovidas pelo Estado. “Iniciativas como a Comissão Nacional da Verdade, do governo federal, e as comissões criadas no âmbito dos estados, dos municípios e das universidades trazem à tona os desmandos cometidos no período sombrio da nossa história, quando o Estado foi o algoz. Conceder indenizações diante das más práticas do Estado é simbólico”, declarou durante o evento.

 

Editor Stênio Ribeiro

Creative Commons - CC BY 3.0

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