one pixel track analytics scorecard

Digite sua busca e aperte enter


Compartilhar:

Atletas indígenas têm primeiro contato com a canoa oficial das provas

Criado em 27/10/15 14h25 e atualizado em 27/10/15 18h05
Por Nathália Mendes, de Palmas (TO) Edição:Líria Jade Fonte:Portal EBC

Com o remo na mão e a bordo de uma canoa, nem todos os povos indígenas têm a mesma facilidade que os assurini e os erikibaktsa, etnias conhecidas por sua perícia na canoagem. Por conta disso, brasileiros e estrangeiros com pouca ou nenhuma familiaridade com a modalidade passaram por um treinamento na manhã desta terça-feira (27). As provas da canoagem começam na próxima sexta-feira, no ribeirão Taquaruçu-Grande.

Confecção das canoas

A organização confeccionou 20 canoas para as disputas, todas feitas do mesmo material para evitar algum tipo de favorecimento. A madeira utilizada é a cedrorana, parecida com o cedro. Com 5,5 metros de comprimento e aproximadamente 55 quilos, as canoas foram projetadas para a competição – e, por isso, são mais estreitas, o que diminui o arrasto na água e dá mais velocidade ao equipamento.

O processo de confecção das canoas é artesanal e leva de 15 dias a um mês. Depois da derrubada da árvore, o tronco passa por desgalhamento e alinhamento do equipamento, em um processo que dura de dois a três dias. Em seguida a canoa é esculpida a golpes de machado e passa pela brocação do casco, escavação do tronco e a queima, ponto em que a tora é amolecida até o seu limite para ganhar forma. Por fim, é feito o acabamento, quando os bancos são colocados e a calafetagem dos furos é concluída.

Cada canoa possui uma caracterização única – pinturas que seguem as tradições de várias etnias nacionais, nas cores preta e vermelha. A escolha das canoas será feita por sorteio, e as baterias terão até seis duplas participantes. Os canoeiros podem usar seu próprio remo, e a direção de prova fornecerá remos adequados para os que precisarem. A largada é dada na praia: os atletas devem colocar a canoa na água para, só depois, começarem a remar. 

Treinamento

Jairton Kaigang foi um dos primeiros a experimentar a canoa de prova. Estreante na canoagem, ele precisou de algumas lições para conseguir avançar até as águas abertas: “Na nossa aldeia (no Paraná) não tem um rio desse tamanho. Lá perto existe só um córrego e a gente não tem o costume de usar esses barcos. Achei interessante e divertido”, conta. “Tivemos dificuldade para nos equilibrar, e ainda não estamos sabendo fazer a volta. Mas vamos tentar”.

Tricampeões nacionais na canoagem, os assurinis também testaram o equipamento. “Não muda muito em comparação com a nossa canoa. Viemos aqui para ver se ela é mais leve ou mais pesada do que estamos acostumados”, conta o canoeiro Toriauia. Segundo ele, equilibrar a canoa não é a parte mais difícil, mas sim controlar e conduzir dentro do percurso estabelecido – um triângulo demarcado por bóias.

Indígenas do México, Guiana Francesa, Colômbia, Nova Zelândia, Filipinas, Estados Unidos, Finlândia, Nicarágua, Canadá, Costa Rica e Uruguai também puderam testar as canoas. Pelo menos três dupas estrangeiras acabaran deixando a canoa afundar, mas sem consequências graves. “Foi difícil. A canoa daqui é diferente da que temos na Guiana Francesa. Foi a primeira vez que entrei em uma canoa usada pelos brasileiros”, confessa Martial.

O norte-americano Melt Spottedbear também foi apresentado à canoa tradicional no treino de hoje. “Foi diferente, mas não foi difícil. Não ficamos com medo de usá-la e acredito que podemos nos sair bem”, afirmou. Sérgio Santana, do México, está acostumado com a prática, mas encontrou diferenças entre o estilo brasileiro e o do seu povo: “O tamanho do nosso remo é maior, e ele também é mais aerodinâmico. A nossa canoa também é cerca de um metro maior, e feita de uma madeira diferente”.

Presidente da Federação de Canoagem do Estado do Pará, Evaldo Malato conta que a técnica da canoagem tradicional é a mesma utilizada pelos atletas olímpicos. “A saída do remo da água é o que dá direção à canoa, mantendo-a reta”, explica. “Para o indígena, a canoagem é uma necessidade cotidiana. Surgiu como um veículo de locomoção e hoje é uma prática esportiva, de identidade cultural própria, reconhecida pela Confederação Brasileira de Canoagem (CBCa)”. 

Tetracampeão mundial da paracanoagem, o atleta Fernando Fernandes acompanhou as sessões de treino e contou sobre o estágio de cinco dias que fez na aldeia dos Javaés, em Tocantins: “Vim para cá para conhecer as raízes do meu esporte e saber de onde o esporte que eu pratico veio. A canoagem tradicional e olímpica, paralímpica, são bem diferentes. Mas deu para sentir a capacidade física dos povos e a aptidão natural que eles têm”. E propõe a valorização dos talentos nativos: “Por que a gente não começa a desenvolver a canoagem do nosso país? Os indígenas têm essa competência e vigor, e esta está sendo uma grande oportunidade de mostrar isso”. 

 

Creative Commons - CC BY 3.0

Dê sua opinião sobre a qualidade do conteúdo que você acessou.

Para registrar sua opinião, copie o link ou o título do conteúdo e clique na barra de manifestação.

Você será direcionado para o "Fale com a Ouvidoria" da EBC e poderá nos ajudar a melhorar nossos serviços, sugerindo, denunciando, reclamando, solicitando e, também, elogiando.

Fazer uma Denúncia Fazer uma Reclamação Fazer uma Elogio Fazer uma Sugestão Fazer uma Solicitação Fazer uma Simplifique

Deixe seu comentário